‘Se um fulano comprovadamente evasor de impostos (Al Capone foi-o), supostamente ligado a interesses muito turvos, com uma lista infinita de julgamentos paralisados e que, valendo-se do cargo de primeiro-ministro italiano, promulga leis que garantem a sua impunidade, se esse fulano não é um atentado à decência, teremos de inventar novos termos para o definir. Pobre Europa, com a cabeça metida no dicionário canalha dos eufemismos’.
(In Sepúlveda, 2004, Uma história suja, p. 186)
5.4.09
1.1.09
"after winter comes another storm, it's a shiver, it's a freakin' out"
26.12.08
20.12.08
"Não escrevi a história de Natal, nem o farei, mas fico com a moral: se você, leitor, decide voluntariamente juntar-se ao rebanho de borregos consumistas que renegam o carácter espontâneo da oferta, faça-o, mas não compre armas nem videojogos que ensinam como atacar o Iraque."
(Sepúlveda, in Uma história suja, 2004, p. 143)
4.12.08
3.12.08
28.11.08
a conversão
Leonardo morreu rodeado de padres e bíblias e antes do último suspiro pediu perdão a Deus pelas obras desdenhosas e inacabadas.
... da leitura de Vallentin, A. (1960). Leonardo Da Vinci. O “espírito divino” da Renascença. Lisboa: Livros do Brasil.
9.7.08
25.5.08
22.5.08
Le peintre des mots
19.3.08
18.3.08
procissão de domingo de ramos
Não fui ver a procissão do domingo de ramos; preferi desviar-me dos magotes de pessoas em sobressalto para ver o bento desfile, espalhadas em todos os recantos da pequena cidade, e desfrutar da minha divina porção de condomínio longe das confusões histéricas da veneração.
[Mas já a cidade me incomoda de há uma ou duas semanas para cá: panos roxos e cruzes nos jardins das casas, nas janelas, nas varandas. Mórbido. Alguns ainda requintam o espantalho com ramos de árvores e objectos afins. Patológico. Um verdadeiro incómodo estético (e moral) que ondula nas ruas, nos postes de electricidade e inclusive nos fios pendurados aleatoriamente por aí…]
A meio da tarde do suave domingo, os hinos da ressurreição chegaram, ainda assim, à minha varanda, invocando o pôr-do-sol. Quem entoava os clamores graves e longos, ampliados por alguma parafernália electrónica, empurrou-me do trabalho para a janela, que fechei para isolar o meu espaço do ronronar poluente e enfadonho das filas de trânsito típicas de hoje e dias iguais.
Fiquei a ouvir apenas os restos da voz murmurando, arrastando-se pelos caminhos do burgo. Quase perto, mas suficientemente longe para não saber decifrar os conteúdos da mensagem anunciada. E assim, entre os vidros e a procissão do domingo de ramos, reproduzi Marraquexe: era o muezzin a chamar para a salat do fim do dia, os minaretes erguidos para o céu a entoar o Corão, e o povo encantado seguindo a encenação.
E aí senti falta de Marrocos inteiro.
[Mas já a cidade me incomoda de há uma ou duas semanas para cá: panos roxos e cruzes nos jardins das casas, nas janelas, nas varandas. Mórbido. Alguns ainda requintam o espantalho com ramos de árvores e objectos afins. Patológico. Um verdadeiro incómodo estético (e moral) que ondula nas ruas, nos postes de electricidade e inclusive nos fios pendurados aleatoriamente por aí…]
A meio da tarde do suave domingo, os hinos da ressurreição chegaram, ainda assim, à minha varanda, invocando o pôr-do-sol. Quem entoava os clamores graves e longos, ampliados por alguma parafernália electrónica, empurrou-me do trabalho para a janela, que fechei para isolar o meu espaço do ronronar poluente e enfadonho das filas de trânsito típicas de hoje e dias iguais.
Fiquei a ouvir apenas os restos da voz murmurando, arrastando-se pelos caminhos do burgo. Quase perto, mas suficientemente longe para não saber decifrar os conteúdos da mensagem anunciada. E assim, entre os vidros e a procissão do domingo de ramos, reproduzi Marraquexe: era o muezzin a chamar para a salat do fim do dia, os minaretes erguidos para o céu a entoar o Corão, e o povo encantado seguindo a encenação.
E aí senti falta de Marrocos inteiro.
10.3.08
8.3.08
200
Já eram quase 11 da noite. Apanhei o 200 ao lado do Piolho, depois de ter vindo a pé com sapatos de dondoca desde o Rivoli, onde se cruzavam alguns frequentadores da gigantesca tenda do Fantas.
Sentei-me enfim, cansada dos sapatos e do dia. Por entre os andantes, dois residentes deste autocarro conversavam calmamente a caminho da Foz. Sem se verem, dialogavam sorrindo.
Sentei-me enfim, cansada dos sapatos e do dia. Por entre os andantes, dois residentes deste autocarro conversavam calmamente a caminho da Foz. Sem se verem, dialogavam sorrindo.
Ao meu lado, cerca de 70 anos de vida em tom de castanho, agora vincados na pele e apoiados numa bengala. Atrás de nós uma interlocutora, que dos seus prováveis sessenta e muitos, tinha
perdido o das 10 e um quarto e por isso ia chegar mais tarde a casa. Nada que a apoquentasse muito, pelo menos de forma explícita.
A certa altura, e logo após terem discutido os impostos e as obras públicas, ela projecta um “o que é preciso é saúde e paz!” ao meu vizinho.
Ele imediatamente aquiesce, mas cala-se por uns momentos a reflectir, terminando com um “e amor!”.
Logo a seguir articula nas suas palavras coloridas: “O amor também é importante. Ninguém pode viver sem amor. Saúde, paz… e amor. É o que a gente precisa para viver.”
Foto: Isabel Pereira Gomes_Braga, Setembro 2007
7.3.08
Polícia vai às escolas perguntar aos professores como é das manifs!
2.3.08
marcha pelos direitos e liberdades democráticas
15.2.08
patrono dos enamorados
30.1.08
diários da aldeia I
Na última missa da igreja de N.ª Sr.ª da Cabeça reparei ainda haver uma ligeira tendência para os homens se concentrarem nos bancos da frente e as mulheres atrás, excepto as do coro e leituras, reunidas no lado oposto ao dos homens, também à frente.
Nesta área há competitividade entre as protagonistas da homilia: a mais rápida é quem vence, i.e. quem faz as leituras perante os crentes. Na maratona ao púlpito, não pode haver hesitações. Ganha quem melhor souber a sequência do texto sagrado, entre as músicas ansiosamente cantadas e os rituais de arrumação da sacra parafernália que, diga-se de passagem, é muito “igualdade de oportunidades” da parte do pároco em funções.
Os cochichos que se vão elevando na tomada de decisão sobre o que se vai cantar a seguir vão irritando o padre, que fulmina aquela região através dos óculos por três vezes, nos únicos momentos em que o vejo descer os olhos para o seu rebanho inquieto.
E como esta linguagem parece não resultar perante a assembleia cantante, ele introduz variações irónicas e incisivas na sua análise da liturgia (revelando uma grande capacidade de integração de conteúdos), passando um sagrado mas claro e profundo raspanete às devotas, em frente a todos e a todas.
E foi então que as ovelhas tresmalhadas sucumbiram às preces do senhor.
Foto: Isabel Pereira Gomes, Janeiro 2008
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