30.1.08

diários da aldeia I


Na última missa da igreja de N.ª Sr.ª da Cabeça reparei ainda haver uma ligeira tendência para os homens se concentrarem nos bancos da frente e as mulheres atrás, excepto as do coro e leituras, reunidas no lado oposto ao dos homens, também à frente.

Nesta área há competitividade entre as protagonistas da homilia: a mais rápida é quem vence, i.e. quem faz as leituras perante os crentes. Na maratona ao púlpito, não pode haver hesitações. Ganha quem melhor souber a sequência do texto sagrado, entre as músicas ansiosamente cantadas e os rituais de arrumação da sacra parafernália que, diga-se de passagem, é muito “igualdade de oportunidades” da parte do pároco em funções.

Os cochichos que se vão elevando na tomada de decisão sobre o que se vai cantar a seguir vão irritando o padre, que fulmina aquela região através dos óculos por três vezes, nos únicos momentos em que o vejo descer os olhos para o seu rebanho inquieto.

E como esta linguagem parece não resultar perante a assembleia cantante, ele introduz variações irónicas e incisivas na sua análise da liturgia (revelando uma grande capacidade de integração de conteúdos), passando um sagrado mas claro e profundo raspanete às devotas, em frente a todos e a todas.

E foi então que as ovelhas tresmalhadas sucumbiram às preces do senhor.
Foto: Isabel Pereira Gomes, Janeiro 2008

26.1.08

Quão largas são as costas da liberdade?


A deputada do CDS-PP, Teresa Caeiro, tem um espaço na Visão, no qual imprime (advertindo à partida o leitor) uma “leitura pessoal dos acontecimentos mais importantes da semana”.
Na edição de 24/01/08 da supracitada revista encontrei uma pérola, nas “Más notícias” e sob o título “Ameaças de terrorismo”, em que a prezada espetou preto no branco a seguinte e profunda reflexão:

As sociedades ocidentais construíram espaços de direitos, de democracia e de liberdades a que me orgulho de pertencer. Quanto tempo teremos de viver condicionados por fanáticos que desprezam aquilo em que acreditamos, a começar pela vida humana? (p. 26).

Saiba, senhora deputada, que quem não preza a vida é alguém que não tem nada a perder. Porque já lhe tiraram tudo.

Quão largas serão as costas da liberdade? De que democracia falamos e dos direitos de QUEM?

Quanto tempo terão ELES de viver rodeados por fanáticos orgulhosos que desprezam aquilo em que os OUTROS acreditam, do alto das suas evoluções democráticas, e das suas posições de destaque?
Foto: Isabel Pereira Gomes_Guimarães, Outubro de 2007

faixa de Gaza todos os dias

E este tormento, não termina??

Centenas de milhares de pessoas fogem, desde o último dia 17, do isolamento, da falta de água, da escassez de petróleo e de bens alimentares e de tratamentos médicos e das temperaturas negativas que lhes foram destinados pela inércia do resto do mundo e pelos senhores da guerra, sempre tão empenhados no resgate dos Direitos Humanos em tudo quanto é recanto da terra.

Arrombam a passagem entre Gaza e o Egipto, correndo pela sua liberdade e pela sua vida.

A ver se clarificamos as coisas:

O argumento israelita:
os rockets diários dos palestinianos.
O 1.º ministro israelita anuncia:
"Pouco me importa que passem frio e andem a pé. Eles são governados por um regime assassino que não nos deixa em paz." (In Visão, 24/01/08, p. 66).
Os números dizem:
12 israelitas mortos por rockets palestinianos desde 2001
284 palestinianos mortos em 2007 em Gaza pelos israelitas
50 palestinianos mortos em 2008 em Gaza pelos israelitas (ibid.)
Alguém em Gaza conclui:
"Esta é uma das piores crises que já tivemos, e o mundo não faz nada." (In Público, 25/01/08, p. 19)

Foto: In http://afp.google.com/article/ALeqM5gOD6uFQnANzrK-A8XhChvx1aeQ5A