19.3.08


Foto: Isabel Pereira Gomes_Março '08

18.3.08

procissão de domingo de ramos

Não fui ver a procissão do domingo de ramos; preferi desviar-me dos magotes de pessoas em sobressalto para ver o bento desfile, espalhadas em todos os recantos da pequena cidade, e desfrutar da minha divina porção de condomínio longe das confusões histéricas da veneração.

[Mas já a cidade me incomoda de há uma ou duas semanas para cá: panos roxos e cruzes nos jardins das casas, nas janelas, nas varandas. Mórbido. Alguns ainda requintam o espantalho com ramos de árvores e objectos afins. Patológico. Um verdadeiro incómodo estético (e moral) que ondula nas ruas, nos postes de electricidade e inclusive nos fios pendurados aleatoriamente por aí…]

A meio da tarde do suave domingo, os hinos da ressurreição chegaram, ainda assim, à minha varanda, invocando o pôr-do-sol. Quem entoava os clamores graves e longos, ampliados por alguma parafernália electrónica, empurrou-me do trabalho para a janela, que fechei para isolar o meu espaço do ronronar poluente e enfadonho das filas de trânsito típicas de hoje e dias iguais.

Fiquei a ouvir apenas os restos da voz murmurando, arrastando-se pelos caminhos do burgo. Quase perto, mas suficientemente longe para não saber decifrar os conteúdos da mensagem anunciada. E assim, entre os vidros e a procissão do domingo de ramos, reproduzi Marraquexe: era o muezzin a chamar para a salat do fim do dia, os minaretes erguidos para o céu a entoar o Corão, e o povo encantado seguindo a encenação.

E aí senti falta de Marrocos inteiro.

8.3.08

200


Já eram quase 11 da noite. Apanhei o 200 ao lado do Piolho, depois de ter vindo a pé com sapatos de dondoca desde o Rivoli, onde se cruzavam alguns frequentadores da gigantesca tenda do Fantas.
Sentei-me enfim, cansada dos sapatos e do dia. Por entre os andantes, dois residentes deste autocarro conversavam calmamente a caminho da Foz. Sem se verem, dialogavam sorrindo.

Ao meu lado, cerca de 70 anos de vida em tom de castanho, agora vincados na pele e apoiados numa bengala. Atrás de nós uma interlocutora, que dos seus prováveis sessenta e muitos, tinha
perdido o das 10 e um quarto e por isso ia chegar mais tarde a casa. Nada que a apoquentasse muito, pelo menos de forma explícita.

A certa altura, e logo após terem discutido os impostos e as obras públicas, ela projecta um “o que é preciso é saúde e paz!” ao meu vizinho.
Ele imediatamente aquiesce, mas cala-se por uns momentos a reflectir, terminando com um “e amor!”.

Logo a seguir articula nas suas palavras coloridas: “O amor também é importante. Ninguém pode viver sem amor. Saúde, paz… e amor. É o que a gente precisa para viver.”
Foto: Isabel Pereira Gomes_Braga, Setembro 2007

7.3.08

Polícia vai às escolas perguntar aos professores como é das manifs!


Ainda nem sequer prepararam os cartazes para amanhã e já estão em apuros!!!

QUE PAÍS É ESTE?!

Aos responsáveis: não caiam no ridículo de tentar racionalizar aquilo que é no mínimo excesso de zelo e em última análise, uma séria atitude de intimidação!

2.3.08

marcha pelos direitos e liberdades democráticas

"Somos muitos, muitos mil. Muitos mais que cinco mil"









O país está em movimento.

Alguns sentenciavam ontem a "queda" da Ministra da Educação.

Espero ansiosamente pelos professores, na próxima semana.




Fotos: Isabel Pereira Gomes_1Mar'08_Lisboa