30.1.08

diários da aldeia I


Na última missa da igreja de N.ª Sr.ª da Cabeça reparei ainda haver uma ligeira tendência para os homens se concentrarem nos bancos da frente e as mulheres atrás, excepto as do coro e leituras, reunidas no lado oposto ao dos homens, também à frente.

Nesta área há competitividade entre as protagonistas da homilia: a mais rápida é quem vence, i.e. quem faz as leituras perante os crentes. Na maratona ao púlpito, não pode haver hesitações. Ganha quem melhor souber a sequência do texto sagrado, entre as músicas ansiosamente cantadas e os rituais de arrumação da sacra parafernália que, diga-se de passagem, é muito “igualdade de oportunidades” da parte do pároco em funções.

Os cochichos que se vão elevando na tomada de decisão sobre o que se vai cantar a seguir vão irritando o padre, que fulmina aquela região através dos óculos por três vezes, nos únicos momentos em que o vejo descer os olhos para o seu rebanho inquieto.

E como esta linguagem parece não resultar perante a assembleia cantante, ele introduz variações irónicas e incisivas na sua análise da liturgia (revelando uma grande capacidade de integração de conteúdos), passando um sagrado mas claro e profundo raspanete às devotas, em frente a todos e a todas.

E foi então que as ovelhas tresmalhadas sucumbiram às preces do senhor.
Foto: Isabel Pereira Gomes, Janeiro 2008

1 comentário:

SAM disse...

O Sagrado e o Propano
LOLOLOL

beijos docinhos!!