5.4.09

Rings a bell?

‘Se um fulano comprovadamente evasor de impostos (Al Capone foi-o), supostamente ligado a interesses muito turvos, com uma lista infinita de julgamentos paralisados e que, valendo-se do cargo de primeiro-ministro italiano, promulga leis que garantem a sua impunidade, se esse fulano não é um atentado à decência, teremos de inventar novos termos para o definir. Pobre Europa, com a cabeça metida no dicionário canalha dos eufemismos’.

(In Sepúlveda, 2004, Uma história suja, p. 186)

1.1.09

"after winter comes another storm, it's a shiver, it's a freakin' out"


The next two songs (…) were inspired by cats.
I like dogs too.
And people are fine.

(Lisa Germano in Lullaby for liquid pig, 2007 - reissue - CD2)

26.12.08


O palaçoulo
corta devagarinho o pão
que as mãos carinhosas juntaram
primeiro em massa,
depois em sustento.

20.12.08

"Não escrevi a história de Natal, nem o farei, mas fico com a moral: se você, leitor, decide voluntariamente juntar-se ao rebanho de borregos consumistas que renegam o carácter espontâneo da oferta, faça-o, mas não compre armas nem videojogos que ensinam como atacar o Iraque."
(Sepúlveda, in Uma história suja, 2004, p. 143)
Os governos começam a cair
mas, povo, é altura de sermos criativos
Foto: Rodin em Sevilha_Dezembro'08

4.12.08

in the balcony

you should delete me
and leave some room for the new ones
Foto: bruxelas, agosto'08

3.12.08

29.11.08

Silence everywhere:
silence in the ears,
silence in the eyes.
In silence it was born
and in silence it slowly dies.
At least it left a few written words
and sometimes it still silently cries.

28.11.08

a conversão
















Leonardo morreu rodeado de padres e bíblias e antes do último suspiro pediu perdão a Deus pelas obras desdenhosas e inacabadas.

... da leitura de Vallentin, A. (1960). Leonardo Da Vinci. O “espírito divino” da Renascença. Lisboa: Livros do Brasil.

9.7.08

25.5.08



Obrigada, avô, pelas memórias todas.

22.5.08

Le peintre des mots



Je suis assez content de ne pas avoir fait
l’amour avec toi, mais je t’aurais bien embrasé
un peu plus.

19.3.08


Foto: Isabel Pereira Gomes_Março '08

18.3.08

procissão de domingo de ramos

Não fui ver a procissão do domingo de ramos; preferi desviar-me dos magotes de pessoas em sobressalto para ver o bento desfile, espalhadas em todos os recantos da pequena cidade, e desfrutar da minha divina porção de condomínio longe das confusões histéricas da veneração.

[Mas já a cidade me incomoda de há uma ou duas semanas para cá: panos roxos e cruzes nos jardins das casas, nas janelas, nas varandas. Mórbido. Alguns ainda requintam o espantalho com ramos de árvores e objectos afins. Patológico. Um verdadeiro incómodo estético (e moral) que ondula nas ruas, nos postes de electricidade e inclusive nos fios pendurados aleatoriamente por aí…]

A meio da tarde do suave domingo, os hinos da ressurreição chegaram, ainda assim, à minha varanda, invocando o pôr-do-sol. Quem entoava os clamores graves e longos, ampliados por alguma parafernália electrónica, empurrou-me do trabalho para a janela, que fechei para isolar o meu espaço do ronronar poluente e enfadonho das filas de trânsito típicas de hoje e dias iguais.

Fiquei a ouvir apenas os restos da voz murmurando, arrastando-se pelos caminhos do burgo. Quase perto, mas suficientemente longe para não saber decifrar os conteúdos da mensagem anunciada. E assim, entre os vidros e a procissão do domingo de ramos, reproduzi Marraquexe: era o muezzin a chamar para a salat do fim do dia, os minaretes erguidos para o céu a entoar o Corão, e o povo encantado seguindo a encenação.

E aí senti falta de Marrocos inteiro.

8.3.08

200


Já eram quase 11 da noite. Apanhei o 200 ao lado do Piolho, depois de ter vindo a pé com sapatos de dondoca desde o Rivoli, onde se cruzavam alguns frequentadores da gigantesca tenda do Fantas.
Sentei-me enfim, cansada dos sapatos e do dia. Por entre os andantes, dois residentes deste autocarro conversavam calmamente a caminho da Foz. Sem se verem, dialogavam sorrindo.

Ao meu lado, cerca de 70 anos de vida em tom de castanho, agora vincados na pele e apoiados numa bengala. Atrás de nós uma interlocutora, que dos seus prováveis sessenta e muitos, tinha
perdido o das 10 e um quarto e por isso ia chegar mais tarde a casa. Nada que a apoquentasse muito, pelo menos de forma explícita.

A certa altura, e logo após terem discutido os impostos e as obras públicas, ela projecta um “o que é preciso é saúde e paz!” ao meu vizinho.
Ele imediatamente aquiesce, mas cala-se por uns momentos a reflectir, terminando com um “e amor!”.

Logo a seguir articula nas suas palavras coloridas: “O amor também é importante. Ninguém pode viver sem amor. Saúde, paz… e amor. É o que a gente precisa para viver.”
Foto: Isabel Pereira Gomes_Braga, Setembro 2007

7.3.08

Polícia vai às escolas perguntar aos professores como é das manifs!


Ainda nem sequer prepararam os cartazes para amanhã e já estão em apuros!!!

QUE PAÍS É ESTE?!

Aos responsáveis: não caiam no ridículo de tentar racionalizar aquilo que é no mínimo excesso de zelo e em última análise, uma séria atitude de intimidação!

2.3.08

marcha pelos direitos e liberdades democráticas

"Somos muitos, muitos mil. Muitos mais que cinco mil"









O país está em movimento.

Alguns sentenciavam ontem a "queda" da Ministra da Educação.

Espero ansiosamente pelos professores, na próxima semana.




Fotos: Isabel Pereira Gomes_1Mar'08_Lisboa

15.2.08

patrono dos enamorados


"Todas as cartas de amor são ridículas", escrevia o poeta.

Mas ridículo, ridículo,

é mesmo

o dia

de S. Valentim.


(Aceitam-se reflexões
mais profundas
sobre o tema)


Foto: Notícias Magazine_n.º 254 / 120_fev'08

30.1.08

diários da aldeia I


Na última missa da igreja de N.ª Sr.ª da Cabeça reparei ainda haver uma ligeira tendência para os homens se concentrarem nos bancos da frente e as mulheres atrás, excepto as do coro e leituras, reunidas no lado oposto ao dos homens, também à frente.

Nesta área há competitividade entre as protagonistas da homilia: a mais rápida é quem vence, i.e. quem faz as leituras perante os crentes. Na maratona ao púlpito, não pode haver hesitações. Ganha quem melhor souber a sequência do texto sagrado, entre as músicas ansiosamente cantadas e os rituais de arrumação da sacra parafernália que, diga-se de passagem, é muito “igualdade de oportunidades” da parte do pároco em funções.

Os cochichos que se vão elevando na tomada de decisão sobre o que se vai cantar a seguir vão irritando o padre, que fulmina aquela região através dos óculos por três vezes, nos únicos momentos em que o vejo descer os olhos para o seu rebanho inquieto.

E como esta linguagem parece não resultar perante a assembleia cantante, ele introduz variações irónicas e incisivas na sua análise da liturgia (revelando uma grande capacidade de integração de conteúdos), passando um sagrado mas claro e profundo raspanete às devotas, em frente a todos e a todas.

E foi então que as ovelhas tresmalhadas sucumbiram às preces do senhor.
Foto: Isabel Pereira Gomes, Janeiro 2008