26.6.07

Ao som de Rui Lage revoltam-se os versos

O país à porta
In "Revólver" (Quasi Edições, 2006)

Se pudesses, O'Neil, ver hoje o teu país,
(ou tu, Assis Pacheco, filho pródigo
destes quintais floridos)
velho de oito séculos e pouco mais velho
desde que o deixaste,
país que secretamente não vota
para não se maçar
enquanto furta com arte as gaiolas vizinhas
a cantar nas paredes caiadas,
país com mais que fazer
(futebol para ver
e mato para queimar);
-----
se pudesses vê-lo agora
não levarias a peito,
mas confirmarias, estou certo,
que tem defeito de nascença
ou de fabrico,
mais valendo, por isso,
como em vida tua valeu,
deitar por terra a lança do ódio,
fechar a navalha do tédio,
sacudir o ombro amigo da solidão
e rir sonoramente de tudo,
talvez não tanto à porta da pastelaria
como hoje em dia, à porta dos chineses,
mas rir sonoramente de tudo, dizia,
- de ti mesmo,
sobretudo.

Foto: Isabel Pereira Gomes_Genève, Setembro de 2006

1 comentário:

Rui Lage disse...

Muito obrigado Isabel. É curioso: o poema funciona melhor alinhado ao centro. Pensarei nisso quando tiver pronto o próximo livro. Parabéns pelo blogue.