3.6.07

Os restos das palavras



Foto: Isabel Pereira Gomes_Musée d'Art et d'Histoire, Genève, Setembro de 2006
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Hoje sobram-me todas as palavras que não escrevi, e o computador é muito lento para as registar.

Esta relação estranha homem-máquina que a evolução incrustou nos nossos quotidianos e que nos torna todos os dias um pouco mais preguiçosos, amorfos e lentos.
As máquinas ganham gradualmente terreno nas vidas dos homens-mulheres, apropriam-se dos seus patrimónios, das suas famílias, dos seus amigos, dos seus colegas de trabalho e de outros ilustres conhecidos.
Sabem tudo sobre as moradas dessa gente e doutra, sobre as dívidas e as riquezas de cada um, sobre todos os seus pequenos e grandes segredos.
Se as máquinas se perderem, se estragarem, desaparecerem, a vida do ser humano transforma-se num vazio, na total ausência de memória.
Até que as relações se restabeleçam dessa catástrofe pessoal, ao ritmo de cada novo encontro com o outro ser.
As máquinas são os baús das vidas. E as palavras são os baús do tempo.

As palavras transportam todos os significados e ficam gravadas em nós.

1 comentário:

A Intolerável Ligeireza do Ser disse...

Concordo por inteiro...."homo sedens" – próximo elo na cadeia da involução, tragédia ou não, é com os olhos à espelhar a régie, no posto de comando em cabedal, que ele controla as próteses mecânicas da sua própria preguiça…