8.3.08

200


Já eram quase 11 da noite. Apanhei o 200 ao lado do Piolho, depois de ter vindo a pé com sapatos de dondoca desde o Rivoli, onde se cruzavam alguns frequentadores da gigantesca tenda do Fantas.
Sentei-me enfim, cansada dos sapatos e do dia. Por entre os andantes, dois residentes deste autocarro conversavam calmamente a caminho da Foz. Sem se verem, dialogavam sorrindo.

Ao meu lado, cerca de 70 anos de vida em tom de castanho, agora vincados na pele e apoiados numa bengala. Atrás de nós uma interlocutora, que dos seus prováveis sessenta e muitos, tinha
perdido o das 10 e um quarto e por isso ia chegar mais tarde a casa. Nada que a apoquentasse muito, pelo menos de forma explícita.

A certa altura, e logo após terem discutido os impostos e as obras públicas, ela projecta um “o que é preciso é saúde e paz!” ao meu vizinho.
Ele imediatamente aquiesce, mas cala-se por uns momentos a reflectir, terminando com um “e amor!”.

Logo a seguir articula nas suas palavras coloridas: “O amor também é importante. Ninguém pode viver sem amor. Saúde, paz… e amor. É o que a gente precisa para viver.”
Foto: Isabel Pereira Gomes_Braga, Setembro 2007

2 comentários:

Anónimo disse...

Sim... saúde, paz e... amor. Ou o sentir que chegar mais tarde a casa faz, realmente, diferença, não vá o amor entrar num dificil e inquietante desassossego...
Ass,
passageiro ocasional do 200, calçado a rigor

Isabel Gomes disse...

Precisamente.